Na
entrevista abaixo Rubem da Silva, 54 anos, ex-servidor da Comissão Nacional de
Energia Nuclear (Cnen), conta sua história de como foi viver o “canto da sereia”
da adesão ao Plano de Demissão Voluntária (PDV). Eram os anos 90 e o governo
neoliberal de FHC anunciava que “o bom era ser seu próprio patrão, demitir seu
chefe!”. Rubem e um outro colega tentaram. Receberam uma indenização e
promessas de acompanhamento no novo negócio, só promessas. Depois de cinco anos
o restaurante não deu certo e ele se viu na busca de uma nova oportunidade em
um mercado preconceituoso, com filhos para criar e a incerteza da
aposentadoria. Tempos difíceis!
Se pudesse,
voltaria ao serviço público. Perguntado sobre essa nova rodada de PDVs
anunciada pelo governo golpista Temer e qual sugestão daria aos servidores
públicos, não tem dúvida: “Eu recomendo que pensem e se informem bem, porque
nem tudo que está ali foi cumprido com a gente. É séria a coisa, tem muita
armadilha. Cuidado, cuidado mesmo!”.
SINTRASEF – Em que ano o senhor
ingressou no seu órgão?
RUBEM DA SILVA - Entrei em maio de 1987, na área administrativa, na função de
combate a incêndio da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen).
O senhor se lembra quando ouviu falar
pela primeira vez em Plano de Demissão Voluntária (PDV)?
Foi no nosso
setor, em 1999. Havia um comentário sobre um plano de demissão voluntária. Aí
eu fui me informar e me explicaram um pouco. Eu não entendi muito bem, mas
estava com intenção de ir para Rio Bonito (RJ) e montar um negócio lá. Aí
recebi uma cartilha que nos dava certa segurança. Dizia que quem quisesse
montar um negócio teria ajuda do Sebrae e do Banco do Brasil. Aquilo me animou
e eu e um amigo do meu próprio setor fizemos.
O senhor lembra o que a cartilha
dizia, o que o senhor assinou, qual foram as condições da sua saída e o que o
senhor levou?
Não lembro,
faz muito tempo. O que ficou enfatizado foi que se montássemos um negócio
teríamos esse acompanhamento com cursos e um banco do Sebrae até caminharmos
com nossas próprias pernas no novo negócio, e que teríamos uma linha de crédito
no Banco do Brasil. Aí animamos e fomos.
E como aconteceu, vocês receberam uma
quantia e o crédito?
Recebemos o
combinado, uma quantia como indenização, acho que uns R$ 25 mil, e fomos abrir
o negócio. Quando montamos o restaurante e depois de uns três anos tivemos uma
queda porque não tínhamos capital de giro e venderam o pátio ao lado que servia
como estacionamento, fomos procurar o Sebrae, e aí não tinha nada de banco
Sebrae nem curso para aperfeiçoamento. Era só aquela indenização que tínhamos
recebido e acabou.
O senhor sentia falta do seu trabalho
na Cnen? Além da mudança financeira, como foi a mudança de hábitos como
trabalho, dia a dia, outras responsabilidades e tarefas que você não estava
acostumado?
É uma
mudança grande. Principalmente depois da queda do negócio. O restaurante durou
uns cinco anos e tive que fechar. É um baque na família. Meus filhos
acostumados com um padrão de colégio, médicos... e aí eu tive reacostumar e
sobreviver em outra realidade.
Tem o
preconceito no mercado também. Eu já estava com 35 anos e ninguém te dá uma
oportunidade. Colocava currículo no mercado e nada. Um ano, dois anos tentando
algo e não conseguia nada. Cuidado, o preconceito é muito grande!
O senhor procurou o seu órgão de
volta? Quando o senhor fez o PDV tinha alguma cláusula que permitia voltar ao
serviço público?
Não tinha.
Se saísse não podia mais voltar. Tenho muitos amigos que saíram de outros
órgãos, não deram certo e acabaram embaixo da ponte, viciados, sem famílias.
Outros se mataram. Conheço uns dois que se jogaram da ponte.
Tem que
estar com a cabeça firme para aguentar essa barra. A indenização que você
recebe em um PDV acaba. Tem que lidar com uma nova realidade e muitos não sabem
viver fora do órgão público, se adaptar a outro trabalho, abrir um negócio.
Quando a ficha cai a pessoa endoida.
Tem muita
gente que não consegue voltar aos seus órgãos nem para visitar, rever os
colegas. Porque tem muita crítica, pessoal fala, tipo, ‘você é maluco. Olha o
que você fez ao largar esse emprego’. E isso abate as pessoas, aí elas nunca
mais voltam ao órgão.
O quê o senhor faz hoje?
Desde 2005
eu trabalho com empréstimo consignado. E faço muitos empréstimos para
pedevistas. Eu conheço a situação deles, não é mole não. A maioria não gostou
do PDV.
Se pudesse, o senhor voltaria ao
serviço público?
Voltaria. Até
para se aposentar com um salário melhor. Vejo muitos amigos da minha idade já
quase aposentados hoje e eu ainda estou por aí. Eu sei que existem tentativas,
projetos lá em Brasília pela volta dos pedevistas. Só que agora com essa
bagunça deste governo soube que parece que está tudo parado sobre isso.
Como o senhor vê essa proposta do
governo de um novo PDV?
Olha, eu
acho que a pessoa tem que pensar muito, porque é difícil. Quando cai a ficha da
nova realidade após o serviço público a pessoa se prejudica muito. Os
obstáculos aqui fora são muito grandes, sem garantias tipo plano de saúde, férias
e aposentadoria. O que passei, inclusive com filhos pequenos, foi muito
difícil.
Eu recomendo
que pensem e se informem bem, porque nem tudo que está ali foi cumprido com a
gente. É séria a coisa, tem muita armadilha. Cuidado, cuidado mesmo!
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