A União vai lançar um Programa de Demissão Voluntária
(PDV) para os servidores públicos do Executivo Federal ainda este ano. O
Ministério do Planejamento implementará a iniciativa nos próximos dias por meio
de Medida Provisória ou projeto de lei, e também vai incluir na proposta para
cortar gastos a possibilidade de reduzir a jornada de trabalho com remuneração
proporcional.
Segundo o governo, a meta é alcançar cinco mil
funcionários e a expectativa é que as ações gerem economia de R$ 1 bilhão ao
ano a partir de 2018. Quem aderir receberá um salário e quarto do valor (125%)
por ano trabalhado como incentivo.
A ideia, segundo o Planejamento, é “aumentar a
eficiência no serviço público com soluções que racionalizem gastos públicos e
proporcionem crescimento econômico”. Mas para o funcionalismo e especialistas,
a medida sucateará o setor e encontrará resistências devido à crise econômica.
Eles relembraram o governo Fernando Henrique Cardoso, quando há 20 anos foi
proposto PDV em que muitos aderiram e encontraram dificuldades para recolocação
no mercado de trabalho.
De acordo com o ministério, o PDV e a proposta de
redução de jornada abrangerão pessoal da Administração Direta (como
ministérios, secretarias e Advocacia Geral da União); das autarquias (Banco
Central, Colégio Pedro II, INPI, agências reguladoras e INSS) e fundações
(IBGE, Biblioteca Nacional, universidades federais e outros).
As
regras para a diminuição da carga horária — com respectiva redução do salário —
ainda não foram fechadas. “Ficou definido que o incentivo financeiro à adesão
ao PDV será de indenização correspondente a 125% da remuneração do servidor na
data de publicação da exoneração multiplicada pelo número de anos de efetivo
exercício do servidor”, informou a pasta.
Após a
divulgação da proposta pelo Planejamento, o ministro da Fazenda, Henrique
Meirelles, endossou a intenção: “Vamos ver até que ponto isso pode ser
concretizado, é uma ideia do Ministério do Planejamento que foi concluída”.
Jornada de 8h para 4h
A
proposta prevê ainda a possibilidade de os servidores aderirem à redução da
jornada de trabalho de oito horas diárias e 40 semanais para seis ou quatro
horas diárias e 30 ou 20 horas semanais, respectivamente, com remuneração
proporcional, calculada sobre o total da remuneração. Será garantido, a quem
optar pela redução de jornada, o pagamento adicional de meia hora diária,
calculada conforme regulamentação a ser editada pelo Planejamento.
Medida adotada há 20 anos prejudicou
servidores
Ao
lembrar que o governo FHC utilizou da mesma medida para conter gastos públicos,
há 20 anos, o especialista em Direito Administrativo e professor da PUC-Rio,
Manoel Peixinho, frisou que o PDV prejudicou muitos servidores na ocasião.
Para
ele, não é vantagem para a maioria do funcionalismo, sobretudo em meio à
recessão, quando muitos enfrentarão obstáculos para conseguir novo emprego ou
abrir um negócio. Mas, neste cenário, o jurista aponta uma exceção: “O PDV, por
exemplo, é vantagem apenas para quem já reuniu condições para se aposentar e
quer sair do serviço público. Essa pessoa vai se aposentar e ainda levar
dinheiro da indenização”.
O
especialista ressaltou ainda que a medida preserva áreas com altas
remunerações. “A proposta do governo federal só alcança os servidores do Executivo
da União. Ficam de fora o Legislativo e Judiciário, justamente os Poderes com
maiores remunerações”, declarou.
A
iniciativa mal foi divulgada mas já é muito criticada por representantes do
funcionalismo. O presidente do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do
Trabalho (Sinait), Carlos da Silva Filho, classificou as propostas como uma
forma de “diminuir o tamanho do estado”, “prejudicando a população”.
“Isso,
aliado à lei de terceirização; à PEC do teto de gastos; às políticas de
privatizações; e às reformas previdenciária e trabalhista, reduz os direitos
dos cidadãos e prejudica a população, principalmente os mais pobres, que pedem
socorro aos órgãos públicos em filas de hospitais, no Ministério do Trabalho e
outros”, argumentou. (Com agências)
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