Marcelo
Rodrigues, presidente da Central Única dos Trabalhadores do Rio de Janeiro
(CUT-RJ), vê este mês de junho como decisivo. As paralisações do próximo dia 20
e a grande greve geral do dia 30 podem fazer com que servidores e trabalhadores
de diversos setores enterrem de vez as reformas da Previdência, trabalhista e o
próprio governo Temer. No entanto, o governo golpista mostra resistência e tenta
empurrar as reformas extremamente danosas goela abaixo de todos. É hora de convencer
colegas, vizinhos e familiares, construir a greve e dia 30 começar as mudanças
de rumo do Brasil!
Pergunta) Qual é a prioridade dos
trabalhadores hoje, barrar as reformas ou conseguir eleições diretas caso Temer
saia da presidência?
Marcelo
Rodrigues) São duas coisas intimamente ligadas. Sabemos que sem ter eleições
diretas; ou seja, com o seguimento do governo golpista ou com eleições
indiretas, as reformas vão avançar. Na verdade conseguimos um fôlego nas
reformas com essa crise do governo, mas se não conseguirmos as eleições diretas,
esse fôlego que conseguimos contra as reformas vai por água abaixo. Temos que
conseguir segurar as reformas para que elas não avancem, isso é o mais
imediato, e garantir que com a queda de Temer se tenha eleições diretas.
Em maio os trabalhadores fizeram
grandes movimentações e uma greve geral, encurralando o governo. Estamos em
junho e as centrais sindicais chamam nova greve geral para dia 30, mas ao mesmo
tempo Temer diz que não sai da presidência e tenta passar as reformas “na marra”.
Como os trabalhadores podem ganhar esse duelo?
Estamos em
um mês de construção forte. Fizemos atos pelas Diretas em Copacabana e em
Madureira com a participação de muita gente que não vinha na nossa pauta. Entre
o dia 26 e 30 de junho há um apontamento de dois dias de paralisação nacional.
O problema é
que se a gente consegue que o Temer caia, mas não aprovem as diretas, e aprovem
uma eleição indireta com alguém do mercado, as reformas passam e a gente perde
o jogo.
Especificamente para os servidores
federais, quais os principais riscos dessas reformas, tanto a trabalhista como
a previdenciária?
É você
acabar com o serviço público na forma como conhecemos hoje. O concurso público
vira passado. E hoje esse governo golpista discute como é que se demite no
serviço público, eles já pediram um estudo sobre isso para os Correios, que
estão nesse processo de demissões. A reforma trabalhista que está aí não
preserva nada para o servidor público.
Qual é a
grande discussão que a CUT faz? Algumas categorias tem feito discussões como
uma categoria diferenciada, isso é uma armadilha! Por exemplo, se negocia alguma
coisa pequena para o serviço público, e aí o serviço público começa a recuar na
disputa da reforma, é o que eles querem. Eles nunca vão permitir que você tenha
um serviço público como se tem hoje, com concurso, estabilidade e previdência
pública. Veja por exemplo a reforma previdenciária, que acaba com a perspectiva
de uma previdência pública.
Há diferenças entre a PL da
terceirização que já foi aprovada e a reforma trabalhista, que também tem a
terceirização irrestrita?
A reforma
trabalhista aprofunda as desigualdades do mercado de trabalho. O Projeto de Lei
da terceirização que foi aprovado é cruel, perverso, mas não é do tamanho da
reforma trabalhista. O PL da terceirização é você acabar com a carteira
assinada no Brasil, mas você ainda preserva alguns mínimos direitos.
A reforma
trabalhista você acaba com a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), pega a Constituição
e apaga tudo quanto é direito trabalhista que tem lá. Na reforma trabalhista
tem um item muito cruel que é valer o negociado sobre o legislado. Quando a
negociação se sobrepõe ao que está na lei, você acaba com qualquer direito. E
só vai conseguir negociar quem tiver sindicato forte, quem não tiver, já era.
O quanto a reforma trabalhista pode
ser problemática para os sindicatos?
Eu acho que
a reforma trabalhista passando, no máximo em dois anos acabam os sindicatos de
luta no Brasil. Eu não vejo perspectiva de você ter sindicato de luta com essa
reforma trabalhista aprovada. Se põe no lugar do patrão. Se eu sou o governo,
por exemplo, passou a reforma trabalhista no serviço público federal eu jogo para
que o Ibama crie o sindicato próprio do Ibama com meia dúzia de gerentes como
dirigentes sindicais. Para que os hospitais federais criem sindicatos próprios
dos servidores dos hospitais federais. Eu começo a dividir e vou na velha
tática de guerra, dividir para conquistar. Vou negociar com um por um. Só que
são sindicatos que eu mesmo criei, vira uma negociação de compadre... vale o
negociado sobre o legislado, o que a gente assinar acabou.
Quer dizer,
os sindicatos vão acabar. A reforma trabalhista acaba com o movimento sindical
brasileiro como a gente conhece. Nós vamos passar a ter um sindicato mais no
modelo norteamericano, que são verdadeiras empresas de lobby, diretamente
ligadas as empresas, fazendo negociação com o governo. O modelo que a gente
tem, que é o modelo sindical europeu, de sindicatos construídos na luta pelos
trabalhadores, acaba e a gente passa para esse modelo norteamericano, que eu
vejo como o pior modelo do mundo. Essa reforma trabalhista quer acabar com os
sindicatos e implementar um novo modelo.
Como rejuvenescer os sindicatos sem
perder o espírito de luta coletiva?
É possível! A
prova de que é possível foi o que nós fizemos aqui na CUT Rio. A chapa
vencedora das últimas eleições, que eu encabeçava, tinha entre 20 nomes 11 que estavam
na executiva da CUT pela primeira vez.
Eu sou um
presidente relativamente novo, tenho 36 anos, é o meu primeiro mandato de
executiva em um movimento sindical. Não fui da executiva do sindicato dos
bancários, não fui da executiva da CUT, virei presidente direto. Eu tenho 13
anos de caixa econômica, então eu sou um quadro relativamente novo para ser
presidente em uma central sindical. Temos outro exemplo que eu acho sensacional
que é o Tezeu Bezerra, que acabou de ganhar o Sindipetro Norte Fluminense. É o
maior sindicato de petroleiros no Brasil, ou seja, é o sindicato que pega toda
a bacia de campos. O Tezeu tem 10 anos de Petrobras .
É possível e
é necessário que nós que somos relativamente mais jovens, temos menos de 40
anos, coloquemos mais ainda a cara, que a gente esteja cada vez mais ocupando
os espaços. E é necessário que haja um convencimento, um entendimento, uma
percepção das direções sindicais. A unidade da esquerda talvez ajude isso, essa
percepção de que os mais novos não estão chegando para roubar os lugares dos
mais velhos, mas estão chegando em um processo de construção que é coletiva e
que você precisa fazer. É fundamental ter um presidente da CUT do Rio de
Janeiro com menos de 40 anos para sinalizar para essa juventude que venha para
dentro dos seus sindicatos.
Tem que criar
esses espaços de empoderamento para possibilitar mudanças. Por exemplo, com servidores
públicos a gente tem muita dificuldade em fazer alguma coisa para o cara que
está chegando no serviço público, que chega perdido. Nós temos muita
dificuldade de fazer um Fórum para o cara que está no primeiro ano de serviço
público dele, para chegar lá e debater, e mostrar para ele, sinalizar. Então dá
muito trabalho, mas dá para fazer esse rejuvenescimento.
Outro ponto é
fazer uma integração muito forte com o movimento estudantil, não só o movimento
estudantil clássico, que está dentro da UNE, dentro dos espaços clássicos, mas
com o movimento estudantil e juvenil para além desses espaços. É ir para dentro
da favela e discutir, é discutir com o garoto que não está na faculdade, mas
está fazendo um cursinho de alfabetização de madrugada, que está fazendo
cursinho técnico, é fazer esse debate para dentro desses espaços, é ir para os
espaços de cultura fazer a discussão, é ir para o samba, para o hip hop, é
fazer discussão com uma massa da sociedade e dizer para eles o seguinte: tem
espaço aqui.