segunda-feira, 12 de junho de 2017

Construir a greve do dia 30 para enterrar Temer e as reformas (Entrevista com Marcelo Rodrigues, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT-RJ))

Marcelo Rodrigues, presidente da Central Única dos Trabalhadores do Rio de Janeiro (CUT-RJ), vê este mês de junho como decisivo. As paralisações do próximo dia 20 e a grande greve geral do dia 30 podem fazer com que servidores e trabalhadores de diversos setores enterrem de vez as reformas da Previdência, trabalhista e o próprio governo Temer. No entanto, o governo golpista mostra resistência e tenta empurrar as reformas extremamente danosas goela abaixo de todos. É hora de convencer colegas, vizinhos e familiares, construir a greve e dia 30 começar as mudanças de rumo do Brasil!         

Pergunta) Qual é a prioridade dos trabalhadores hoje, barrar as reformas ou conseguir eleições diretas caso Temer saia da presidência?
Marcelo Rodrigues) São duas coisas intimamente ligadas. Sabemos que sem ter eleições diretas; ou seja, com o seguimento do governo golpista ou com eleições indiretas, as reformas vão avançar. Na verdade conseguimos um fôlego nas reformas com essa crise do governo, mas se não conseguirmos as eleições diretas, esse fôlego que conseguimos contra as reformas vai por água abaixo. Temos que conseguir segurar as reformas para que elas não avancem, isso é o mais imediato, e garantir que com a queda de Temer se tenha eleições diretas.

Em maio os trabalhadores fizeram grandes movimentações e uma greve geral, encurralando o governo. Estamos em junho e as centrais sindicais chamam nova greve geral para dia 30, mas ao mesmo tempo Temer diz que não sai da presidência e tenta passar as reformas “na marra”. Como os trabalhadores podem ganhar esse duelo?
Estamos em um mês de construção forte. Fizemos atos pelas Diretas em Copacabana e em Madureira com a participação de muita gente que não vinha na nossa pauta. Entre o dia 26 e 30 de junho há um apontamento de dois dias de paralisação nacional.
O problema é que se a gente consegue que o Temer caia, mas não aprovem as diretas, e aprovem uma eleição indireta com alguém do mercado, as reformas passam e a gente perde o jogo.

Especificamente para os servidores federais, quais os principais riscos dessas reformas, tanto a trabalhista como a previdenciária?
É você acabar com o serviço público na forma como conhecemos hoje. O concurso público vira passado. E hoje esse governo golpista discute como é que se demite no serviço público, eles já pediram um estudo sobre isso para os Correios, que estão nesse processo de demissões. A reforma trabalhista que está aí não preserva nada para o servidor público.
Qual é a grande discussão que a CUT faz? Algumas categorias tem feito discussões como uma categoria diferenciada, isso é uma armadilha! Por exemplo, se negocia alguma coisa pequena para o serviço público, e aí o serviço público começa a recuar na disputa da reforma, é o que eles querem. Eles nunca vão permitir que você tenha um serviço público como se tem hoje, com concurso, estabilidade e previdência pública. Veja por exemplo a reforma previdenciária, que acaba com a perspectiva de uma previdência pública.

Há diferenças entre a PL da terceirização que já foi aprovada e a reforma trabalhista, que também tem a terceirização irrestrita?
A reforma trabalhista aprofunda as desigualdades do mercado de trabalho. O Projeto de Lei da terceirização que foi aprovado é cruel, perverso, mas não é do tamanho da reforma trabalhista. O PL da terceirização é você acabar com a carteira assinada no Brasil, mas você ainda preserva alguns mínimos direitos.
A reforma trabalhista você acaba com a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), pega a Constituição e apaga tudo quanto é direito trabalhista que tem lá. Na reforma trabalhista tem um item muito cruel que é valer o negociado sobre o legislado. Quando a negociação se sobrepõe ao que está na lei, você acaba com qualquer direito. E só vai conseguir negociar quem tiver sindicato forte, quem não tiver, já era.

O quanto a reforma trabalhista pode ser problemática para os sindicatos?
Eu acho que a reforma trabalhista passando, no máximo em dois anos acabam os sindicatos de luta no Brasil. Eu não vejo perspectiva de você ter sindicato de luta com essa reforma trabalhista aprovada. Se põe no lugar do patrão. Se eu sou o governo, por exemplo, passou a reforma trabalhista no serviço público federal eu jogo para que o Ibama crie o sindicato próprio do Ibama com meia dúzia de gerentes como dirigentes sindicais. Para que os hospitais federais criem sindicatos próprios dos servidores dos hospitais federais. Eu começo a dividir e vou na velha tática de guerra, dividir para conquistar. Vou negociar com um por um. Só que são sindicatos que eu mesmo criei, vira uma negociação de compadre... vale o negociado sobre o legislado, o que a gente assinar acabou.
Quer dizer, os sindicatos vão acabar. A reforma trabalhista acaba com o movimento sindical brasileiro como a gente conhece. Nós vamos passar a ter um sindicato mais no modelo norteamericano, que são verdadeiras empresas de lobby, diretamente ligadas as empresas, fazendo negociação com o governo. O modelo que a gente tem, que é o modelo sindical europeu, de sindicatos construídos na luta pelos trabalhadores, acaba e a gente passa para esse modelo norteamericano, que eu vejo como o pior modelo do mundo. Essa reforma trabalhista quer acabar com os sindicatos e implementar um novo modelo.

Como rejuvenescer os sindicatos sem perder o espírito de luta coletiva?
É possível! A prova de que é possível foi o que nós fizemos aqui na CUT Rio. A chapa vencedora das últimas eleições, que eu encabeçava, tinha entre 20 nomes 11 que estavam na executiva da CUT pela primeira vez.
Eu sou um presidente relativamente novo, tenho 36 anos, é o meu primeiro mandato de executiva em um movimento sindical. Não fui da executiva do sindicato dos bancários, não fui da executiva da CUT, virei presidente direto. Eu tenho 13 anos de caixa econômica, então eu sou um quadro relativamente novo para ser presidente em uma central sindical. Temos outro exemplo que eu acho sensacional que é o Tezeu Bezerra, que acabou de ganhar o Sindipetro Norte Fluminense. É o maior sindicato de petroleiros no Brasil, ou seja, é o sindicato que pega toda a bacia de campos. O Tezeu tem 10 anos de Petrobras .
É possível e é necessário que nós que somos relativamente mais jovens, temos menos de 40 anos, coloquemos mais ainda a cara, que a gente esteja cada vez mais ocupando os espaços. E é necessário que haja um convencimento, um entendimento, uma percepção das direções sindicais. A unidade da esquerda talvez ajude isso, essa percepção de que os mais novos não estão chegando para roubar os lugares dos mais velhos, mas estão chegando em um processo de construção que é coletiva e que você precisa fazer. É fundamental ter um presidente da CUT do Rio de Janeiro com menos de 40 anos para sinalizar para essa juventude que venha para dentro dos seus sindicatos.
Tem que criar esses espaços de empoderamento para possibilitar mudanças. Por exemplo, com servidores públicos a gente tem muita dificuldade em fazer alguma coisa para o cara que está chegando no serviço público, que chega perdido. Nós temos muita dificuldade de fazer um Fórum para o cara que está no primeiro ano de serviço público dele, para chegar lá e debater, e mostrar para ele, sinalizar. Então dá muito trabalho, mas dá para fazer esse rejuvenescimento.

Outro ponto é fazer uma integração muito forte com o movimento estudantil, não só o movimento estudantil clássico, que está dentro da UNE, dentro dos espaços clássicos, mas com o movimento estudantil e juvenil para além desses espaços. É ir para dentro da favela e discutir, é discutir com o garoto que não está na faculdade, mas está fazendo um cursinho de alfabetização de madrugada, que está fazendo cursinho técnico, é fazer esse debate para dentro desses espaços, é ir para os espaços de cultura fazer a discussão, é ir para o samba, para o hip hop, é fazer discussão com uma massa da sociedade e dizer para eles o seguinte: tem espaço aqui.
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